terça-feira, agosto 24, 2004

Por que ser humilde?

A um amigo meu --diga-se de passagem que nele, no tocante a sua profissão, seria justificavel a falta de modéstia-- foi perguntado um dia qual a motivação para se ser humilde sempre, mesmo quando se é incontestavelmente bom conhecedor de algo? Ao que ele respondeu que, sendo realmente bom em algo, o indivíduo de bom senso, à medida que aprende sobre algo deve ir percebendo também que o que ele sabe é muito muito pouco do que há para se saber.

Essa é, para mim, a essência da humildade sincera, a humildade do "Só sei que nada sei" do bom filósofo.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Psicologia Reversa

Dos doze aos quatorze anos estudei no Dom Bosco. Embora me declarasse ateu, nessa época eu fui muito bem tratado por todos os professores, pelos colegas e pelos poucos religiosos que via por lá.

No segundo grau, passei no concurso da escola técnica, lá fiquei deslumbrado com uma tal aula de filosofia com um professor comunista barbudo (virei fã do cara imediatamente) pois ele estava me ensinando a pensar criticamente e agora eu era mais um intelectual que iria proteger a massa da manipulação desses "burgueses imundos". Assim eu me sentia melhor do que os outros. Eu era melhor do que a massa e era melhor do que os burqueses.

Confesso com o coração amargurado que a motivação essêncial para minha aderência instantânea ao marxismo foi a soberba --nomes aos bois--. A compaixão pelos pobres foi apenas uma sedução inicial.

Não sei se o termo psicologia reversa cabe aqui, mas a doutrinação ideológica tem essa propriedade de fazer você ver o inverso da realidade (e isso com toda a convicção do mundo). Conseguiram me fazer crêr que instituições governamentais não socialistas era sempre totalitárias, sendo que não muito conhecimento histórico é necessário para se perceber que poucos são as tiranias tão totalitárias quanto as dos paises comunistas, aliás, não havia comportamento mais totalitário do que o do meu professor barbudo e o de seus seguidores. Nas aulas de filosofia qualquer pensamento dissidente era desmoralizado, diluido e, por fim, repudiado, não de forma explícita, mas de maneira maliciosa e aos poucos (o que é pior). Doutrinação ideológica financiada pelo governo federal -- vê-se que não é novidade de nossos dias! --.

Mas nada como a perseverante e persistente realidade que insiste em saltar à nosso olhos, não é verdade. E com muita resistência eu fui tendo que admitir que o enquadramento marxista da realidade tinha falhas grotescas.

O primeiro dogma socialista a cair foi o da igualdade material entre todos os homens como um fim justo. os outros foram caindo por terra feito um castelo de cartas. Mas o negócio estava bem enraizado e eu preferia acreditar que a esquerda brasileira apenas que era burra, mas o socialismo e o resto do pacote(modernismo, darvinismo, iluminismo, etc.) , esses sempre imaculados. E foi assim até que eu entrei em crise, porque até minha estupidez tem limites!

Depois que se engole o orgulho e aceita-se que fez papel de idiota por muito tempo tudo fica mais fácil. O problema do socialismo não é conter algumas falácias, o socialismo é uma Falácia -F maiúsculo-, uma mentira beeem grande! Para não me estender termino este meu post (no mínimo verborrágico) com as palavras de Joâo Paulo II, que assim como muita gente de bom senso, vê claramente que o erro do socialismo está na essência (distorcido entendimento do homem), nos meios (coletivo atropela o indivíduo, e nos fins (igualdade quimérica entre todos os homens):

Nesta luta contra um tal sistema (o Papa está falando do capitalismo selvagem) não se veja, como modelo alternativo, o sistema socialista, que, de fato, não passa de um capitalismo de estado, mas uma sociedade do trabalho livre, da empresa e da participação" (no. 35) "A Igreja reconhece a justa função do lucro, como indicador do bom funcionamento da empresa" (no. 35) "Aquele Pontífice (Leão XIII), com efeito, previa as conseqüências negativas, sob todos os aspectos - político, social e econômico - de uma organização da sociedade, tal como a propunha o 'socialismo', e que então estava ainda no estado de filosofia social e de movimento mais ou menos estruturado. Alguém poderia admirar-se do fato de que o Papa começasse pelo 'socialismo' a crítica das soluções que se davam à 'questão operária', quando ele ainda não se apresentava - como depois aconteceu - sob a forma de um Estado forte e poderoso, com todos os recursos à disposição. Todavia Leão XIII mediu bem o perigo que representava, para as massas, a apresentação atraente de uma solução tão simples quão radical da 'questão operária'. (n°. 12).

Aprofundando agora a reflexão delineada (...) é preciso acrescentar que o erro fundamental do socialismo é de caráter antropológico. De fato, ele considera cada homem simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social, de tal modo que o bem do indivíduo aparece totalmente subordinado ao funcionamento do mecanismo econômico-social, enquanto, por outro lado, defende que esse mesmo bem se pode realizar prescindindo da livre opção, da sua única e exclusiva decisão responsável em face do bem e do mal. O homem é reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de pessoa como sujeito autônomo de decisão moral, que constrói, através dessa decisão, o ordenamento social. Desta errada concepção da pessoa deriva a distorção do direito, que define o âmbito do exercício da liberdade, bem como a oposição à propriedade privada.



quarta-feira, agosto 18, 2004

Post de Inauguração

Como meu primeiro post neste Concílio de amigos, queria colocar o que escrevi sobre meu melhor amigo, o monge beneditino que me viu crescer e que foi meu confessor por quase 20 anos, desde minha primeira comunhão até sua morte em 1993. O texto foi originalmente publicado no Asa de Borboleta, em 15 de novembro de 2003. É um texto para homenagear o homem que me guiou pela mão até o Cristo, que fala do amor, do orgulho e da saudade que sinto quando penso nele.

Homem de Preto
Ela chegou sozinha. Entrou em silêncio. Sentou-se no canto mais escuro da grande igreja barroca. As lágrimas, teimosas e fartas, escorriam sem parar e sem que ela fizesse qualquer movimento para estancá-las. Um soluço esporádico incomodava os espantados vizinhos de banco. A maior parte do tempo ela mantinha os olhos baixos, as lágrimas regando e enchendo lentamente o côncavo de suas mãos pousadas sobre suas coxas. Ouvia sem escutar o movimento e a missa solene que prosseguia. Os momentos em que tinha de ficar em pé eram os mais difíceis, pois então não havia como não ver o vulto de preto estendido descalço no chão, em frente ao altar.

Aquele vulto de negro tinha sido parte de sua vida desde o berço, quando ele visitara a casa de sua avó e abençoara o bebê que ela fora. Maiorzinha, levada pela mão da tia, ia visitar aquele grande homem sorridente, sempre de preto. Ela menina ia ficando mais e mais intimidada quando seus olhos iniciavam a viagem do chão até seu rosto. Desde os sapatos pretos reluzentes, passando pelo hábito preto e grosso – com aquele aventalzinho engraçado na frente onde ele escondia as mãos – até chegar ao rosto. Aí, todo sentimento de intimidação sumia, porque a criança pequena que ela era encontrava o brilho alegre do olhar daquele homem, que parecia dizer “sou criança também, mas não conte a eles!”. Ela não conseguia evitar de abrir um largo sorriso. Ao longo dos anos foi sempre assim, ela aprendia rapidamente a interpretar os diferentes brilhos do olhar daquele homem de preto.
Depois que ficou maior, e fez sua primeira comunhão em Brasília, esperava aflita as oportunidades de pegar um avião para o Rio de Janeiro, onde seu amigo a esperava. Eles chamavam aquelas visitas de “confissão”, mas ela via aquilo apenas como matar as saudades de seu amigo – muitas vezes, durante diversas fases de sua vida, o único amigo verdadeiro. No meio das conversas, períodos longos de silêncio, sentados num canto do jardim, escutando o distante rugido do centro da cidade e o silêncio reinante naquele recanto. Uma vez, um sabiá pousou na frente deles e os três ficaram a se fitar, imóveis, até que o pássaro cansou da brincadeira e levou seu peito vermelho para longe dali, mas não sem antes deixar uma estranha alegria no peito da menina.
Na adolescência, a natural atitude de desafio da idade se desmanchava por completo na presença do homem de preto. O sorriso compreensivo, a voz pausada e modulada, aquele olhar penetrante onde sempre pairava uma alegria, aquilo tudo a acalmava. Ele, ao contrário dos pais, escutava atento e com a maior seriedade o que ela lhe dizia. Concordando ou não, nunca fazia com que ela se sentisse tola ou incapaz.
Quando a mãe da jovem adoeceu, seu homem de preto redobrou suas atenções, ligando toda a semana e insistindo que ela se juntasse ao grupo jovem que ele orientava. Ela foi, apenas para estar com seu amigo, nada tinha em comum com a maioria daqueles adolescentes que cantavam tão alto e batucavam seus violões na missa. Ela tinha crescido escutando a voz de seu amigo no canto gregoriano, sob a sombra cheia de contemplação daquele Mosteiro. Morre-lhe a mãe, e a saúde de seu já idoso amigo começa a fraquejar. Pouco a pouco, ele enfraquece diante dos seus olhos, mas tamanha era a força daquele espírito que ela não percebeu nada além do olhar cada dia mais arguto em desvendar seus pensamentos e humores, e a palavra cada dia mais caridosa.

Agora ela estava ali, e seu amigo, seu homem de preto, repousava no chão de pedra da igreja onde eles sempre se encontravam. As mãos não mais escondidas no bolso do hábito, mas recolhidas dentro das mangas. O capuz que ela sempre vira pender sobre os ombros, pela primeira vez cobria sua cabeça. Os pés, ela os via pela primeira vez sem seus sapatos pretos sempre bem engraxados. Ela nunca o vira tão quieto e tranquilo, parecia dormitar, mas ela sabia que aquele era o sono eterno, merecido depois de uma longa vida de estudo, trabalho e problemas de saúde. Seus irmãos de hábito se arrumam em torno dele, e ela sente a dor aguda da separação iminente. Sendo mulher, jamais poderá visitá-lo no claustro onde ele dormirá. Não sendo parente, não poderá jamais convencer àquelas pessoas espantadas de vê-la chorar tanto a morte de um padre que aquele monge era seu pai. Não sendo da ordem beneditina, não poderia jamais compartilhar com ele esta irmandade especial advinda de ser filha de São Bento. Ele ia ser radical e definitivamente separado dela.
Eles o levaram em procissão e ela seguia, tornada apática pelo tamanho do seu sofrimento. Seguia mais ou menos no meio da multidão que acorrera ao velório e ao enterro, multidão que era para ela nova fonte de dor, pois nem mesmo a exclusividade de saber que ele era especial ela tinha. Colocado suavemente dentro de sua última morada, a fila dos amigos que iam prestar os últimos respeitos se forma, e cada um recebe uma pedrinha, que deposita sobre o caixão agora fechado. Ela quase guardou aquela pedra na bolsa, mas afinal queria que ele tivesse contato, por ínfimo que fosse, com algo que pertencera a ela, nem que fosse por alguns instantes. Jogou a sua pedrinha também.
Ao deixar o claustro, grossas lágrimas de chuva começaram a cair do céu de março, pois aquele dia o Rio de Janeiro chorou copiosamente a morte de um filho ilustre. Vagarosamente ela desce a ladeira no meio da chuva, indiferente, mas pára um instante para olhar para trás. Aquela imensa construção de pedra sempre o abrigara. Agora, misteriosamente, toda a construção sorria o seu sorriso, e todas as vidraças brilhavam com a luz do seu olhar. Pois ele virara o Mosteiro, e o Mosteiro virara João.

Novo Link

Adicionei o link do Asa de Borboleta -blog da Sue Medeiros- que, mesmo para quem não suporta insetos, é muito boa leitura.

Para dar um gostinho:

[...]Outro dia conversava com um amigo – não O Amigo, um amigo, que infelizmente não pertence ao Exército de Pedro, pouco soube o que era ser criança de verdade, e hoje é um adolescente sério, sério, que lê Nietzsche e acha que tudo é em vão – e este me dizia que não acreditava em Deus, que não era religioso por ser por natureza um lobo e não uma ovelha. “Qual o problema em ser uma ovelha?” perguntei. Ao que ele respondeu “Sue, você também não é um a ovelha, apesar de querer ser”.

Parei tudo. Pensei. É, não sou uma ovelha. Posso ser muitas coisas, mas dentre minhas qualidades ocultas e meus defeitos patentes não se encontra nenhuma característica de ovelha. Não possuo nem um átomo de mansidão, nem sou indefesa, nem fico quietinha quando me levam para o matadouro. Muito pelo contrário, a simples sugestão de tal coisa me faz gritar e espernear feito uma louca. Matadouro uma ova! Eu sou agressiva e intensa, tanto nas coisas que gosto quanto nas coisas que não gosto. Entre o preto e o branco aceito no máximo uns quatro tons de cinza. E deixa alguém me pisar nos calos (metaforicamente, pois não tenho calos de verdade)! O sangue calabrês de minha avó paterna me sobe à cabeça, e aí não me responsabilizo mais. Menos ovelha, impossível. Será que eu sou um lobo?, pensei desolada...

Meu amigo já esfregava as mãos e afiava o garfo e a faca, pensando: agora ela está perdida! Não sai desta. Só que eu lembrei de uma coisa. Perguntei a ele: “De onde vêm os cães?” “Como?!?!”, perguntou ele meio confuso. “De onde vêm os cães?” repeti. “Ora, eles vêm dos lobos.”

Não é que vêm mesmo? Olha só, eu estava tão triste, me sentindo obrigada a optar entre ser uma ovelha, fraquinha, indefesa – e boa – e ser um lobo, forte, astucioso – e malvado. Mas me lembrei que os cães são lobos que escolheram ser fortes, astuciosos – e bons. Esta opção do malvado forte contra o bonzinho fraco é uma mentira. As pessoas são fracas ou fortes – ovelhas ou lobos. Tanto as ovelhas quanto os lobos, uma hora ou outra, têm de escolher se vão ou não ser bons. Se você nasceu lobo, não se desespere. Treine para ser um Cão Pastor quando crescer. E saia por aí protegendo as Ovelhinhas e triturando os Lobos Maus.[...]



Meus amigos, eu lhes pergunto, não seria muito mais feliz o mundo se em nossas universidades lessem mais Medeiros do que Nietzsch?

quarta-feira, agosto 11, 2004

O homem imagem de Deus Amor



"Deus criou o homem à sua imagem e semelhança: chamando-o à existência por amor, chamou-o ao mesmo tempo ao amor.

Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano.

Enquanto espírito encarnado, isto é, alma que se exprime no corpo informado por um espírito imortal, o homem é chamado ao amor nesta sua totalidade unificada. O amor abraça também o corpo humano e o corpo torna-se participante do amor espiritual."(FC)



Em minha opinião esses são os parágrafos mais lindos da exortação Familiaris Consortio do papa João Paulo II.

Em poucas linhas o Santo Padre, à luz da Revelação, diz o como e o porquê (sentido) da nossa vida: Existimos por um ato do Amor de Deus e existimo para amar.

Depois ele dá as razões da dignidade do corpo de forma muito bonita também. Confesso que depois que li essa parte um novo mundo se abriu para mim ... a dignidade e o valor do corpo.

sexta-feira, agosto 06, 2004

Remédio gratuito

Se quiser adoecer - "Viva sempre triste". O bom humor, a risada, o
lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre
tem o dom de alegrar o ambiente em que vive. "O bom humor nos salva das
mãos do doutor". Alegria é saúde e terapia.


Dom OrlandoBrandes

quinta-feira, agosto 05, 2004

Nietzsch

Das coisas que conheço da obra de Nietzsch as que eu achei mais aproveitáveis foram duas:

Minha filosofia, se é que tenho o direito de assim chamar o que me atormenta interiormente até às raízes, não é mais comunicável... Atualmente minha vida concentra-se no desejo de que as coisas possam ser diversas da maneira pela qual eu as concebo e que alguém possa convencer-me da não-credibilidade das minhas verdades.

Uma confissão de que a filosofia dele é um tormento interior à quem a viva.

Há verdades que somente os loucos podem dizer -e há nisso algo de verdade- mas também seria louco aceitar como verdade tudo aquilo que sai da boca dos loucos.

O brilhante reconhecimento de sua própria loucura e da loucura de quem toma como verdade tudo que sai de sua boca.

terça-feira, agosto 03, 2004

O nome é Blues Etílicos

No final de semana que passou fui ao show (de grátis :P) dessa bandinha que eu nunca ouvi falar.

O show foi num espaço não coberto em Itaipava com direito a uma belíssima lua cheia.
Quem se amarra em solo de gaita e guitarra não tem como não gostar do Blues Etílicos. Eles têm composiçoes próprias e toca música dos outros também.

Muito bom o show até me entusiasmei de voltar a tocar gaita.

domingo, agosto 01, 2004

Evolução III (a última)

O evolucionismo pode não ser anti-católico, no entanto, é o fundamento para o materialismo histórico de Marx e este, por sua vez, é o fundamento do comunismo e do nazismo que são duas doutrinas extremamente anti-católicas e anti-humanas por tabela.

Mas, isso não é o cerne da questão. O que me chama a atenção é que o evolucionismo é , no meu entendimento, nada nada razoável cientificamente.

Se assitimos uma apresentação de uma orquestra tocando Outono de Vivaldi, nós, sem que alguém precise nos dizer, SABEMOS que a harmonia dos instrumentos se deve a uma inteligência que não se confunde com nenhum dos componentes da banda(músico, maestro ou instrumento), no caso, essa inteligência é o gênio de Vivaldi.

A medida que a ciência biológica desenvolve-se, no ramo da bioquímica por exemplo, o que se constata é que existe uma harmonia perfeita entre partes extremamente complexas.

Dizer que essa harmonia deve-se ao acaso é, acho eu, agredir o bom senso e a razão.

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